7 de abr. de 2010

Flores sem espinhos

A moça, fingindo que só agora ouvira os passos, levantou enfim um rosto sonso de surpresa. E era como se a doçura dessa mentira tivesse feito seu rosto atingir uma expressão ao mesmo tempo de desamparo e dádiva - e tudo, tudo era fingido. Vitória fechou as mãos dentro do bolso da calça:
- Que é que você está fazendo, perguntou tranquila.
- Podando a roseira brava.
- A roseira não assusta você? perguntou suave; tinha necessidade de ferir aquela moça ajoelhada como se esta fosse a culpada do absurdo dela própria ter contratado o homem.
- Esta não: esta tem espinhos.
Vitória franziu as sobrancelhas:
- E que diferença faz se tem espinhos?
- É que só tenho medo, disse Ermelinda com certa voluptuosidade, quando uma flor é bonita demais: sem espinho, toda delicada demais, e toda bonita demais.

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